segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Vomitando analogias

Enquanto o último carro ia passando pela avenida e o último comércio ia fechando suas portas com seus funcionários cantarolando, lá estava eu, deitada na poltrona, fumando meu cigarro. A fumaça passava pela luz do poste e deixava um efeito melodramático, só pra combinar com a dor da alma.

A dor que eu carregava nos ombros estava forte demais, não estava mais suportando o peso de ser forte. Mas menina, tu foi criada pra ser guerreira! E fui. Mas não tô conseguindo mais. A garrafa de Moscatel sobre a janela e eu já nem me preocupava com o efeito entorpecente de álcool e analgésicos.

Sorria, pensei. Coloque na mente que tu é melhor que todos esses problemas. Pense e atraia, pense e atraia. Mas não deu. A dor da alma era tão grande que começa a dar sinais no físico. As costelas pareciam que tinham levado centenas de socos, a cabeça pesada, a pele opaca, sem ânimo, sem vida, os cabelos todos indo para o chão, por isso sempre amarrado, para não perceber o impacto de imediato.

Quando essas coisas começam a acontecer a gente só quer ficar quietinho, acaba que afastando as pessoas para que ninguém perceba a tristeza. Mas o silêncio é o grito mais poderoso da alma; " me ajude, eu quero viver", e ecoa em todo o ser. Mil coisas passam pela mente, de vontade de dormir para sempre até sumir no mundo em busca de si. Mas e a família? E os amigos (que amigos?)?.

Me falaram que era falta de amor, mas como curar desta forma sendo que o coração está fraco e não quer saber de adrenalina? Não esse tipo de adrenalina. Adrenalina boa é aquela que desafia a morte. Dessa eu gosto. Adoro ver a morte chegando perto e eu dou meu melhor sorriso. Hoje não, dama de preto. Hoje não.

O fato é que, nada se espera e nada se sente. Simplesmente já se esfriou, se entorpeceu. Nada se sente e nada se ouve. Nada se quer. Apenas o eco "me ajude, eu quero viver". O que fazer? Não sei. Gostaria de ter uma receita pronta, mas nada é tão simples.
E ninguém entende. Ninguém está disposto a te ajudar a te tirar desse buraco. Ninguém. Porque só sabe quem passa pela mesma situação.

Mais um cigarro, mais um gole de Moscatel. E tem gatos lá em baixo, fazendo arruaça. Ainda bem que os meus são bons meninos. E começou a esfriar, o vento tocando friamente meu corpo. Esqueci de me vestir quando vim para a poltrona. Suspiro.

Será?



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