sexta-feira, 4 de março de 2016

Japonês da Federal, corrupção e outros afins

A população brasileira vibrou com o "japonês da federal", ele é o cara, disseram. Mas quem é o "japonês da federal"?


Newton Hidenori Ishii, 60 anos, policial e então Coordenador de Carceragem. Visto sempre acompanhando os réus da Operação Lava Jato, virou herói nacional e figura carimbada nas redes sociais com GIF's e montagens de humor. Sem esquecer que virou marchinha de carnaval. Mas, e a verdade? 


A verdade é que o tal japonês já foi investigado e expulso da Polícia Federal. Por que? Preso em 2003, processado, foi condenado na primeira instância em 30 de abril de 2009. Viu seu recurso de apelação ser parcialmente acatado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Sul) – TRF-4 em fevereiro de 2013. Mas, decorridos 13 anos desde a prisão, continua aguardando uma decisão no Recurso Especial (REsp) que impetrou no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Os autos dormitam em alguma prateleira do gabinete do ministro Félix Fischer, desde abril de 2015 à espera do julgamento. A impunidade não o atinge sozinho. Com ele, aguardam o julgamento do Recurso outros acusado, julgados nas dez ações penais em que se desdobrou a ação inicial da Operação Sucuri.



Além da questão criminal, o agente e mais 42 réus respondem na 1ª Vara Federal de Foz do Iguaçu uma Ação de Improbidade Administrativa desde junho de 2008. O grande número de réus – no criminal, como afirmamos acima, houve desmembramento – faz o processo andar a passo de tartaruga. Nele é fácil constatar que as defesas usam de todo os expedientes protelatórios que as leis lhes garantem. Com isso, ainda não foi possível vencer as audiências de instrução em que são ouvidas as testemunhas, algumas da quais faleceram, outras se aposentaram e muitas mudaram de endereço e não são encontradas.
Um dos pedidos inusitados apresentado pela defesa de Ishii e de outros sete réus,  feito em 2012 – ou seja, há quatro anos, – equipara-se ao que a defesa de Marcelo Odebrecht levou ao juiz Sérgio Moro: perícia nas degravações das conversas telefônicas interceptadas, por ter havido a inserção de elementos interpretativos pelos policiais federais na transcrição das conversas.
A questão não é o japonês, mas quem está por trás dele.

O vazamento da delação de Nestor Cerveró foi motivo de consternação no STF. Um dos suspeitos é o agente da Polícia Federal Newton Hidenori Ishii, alvo de um inquérito para apurar o caso.
Seu depoimento estava marcado para sexta (27), mas foi desmarcado e nenhuma outra data foi aprazada. Antes de qualquer coisa, a superintendência da PF em Curitiba já afirmou que “tem confiança” em seu trabalho e que “a apuração será rápida”.
Ué. O problema, evidentemente, não é a rapidez, mas a necessidade de investigar de maneira correta a história. Começou mal e vai terminar em nada.
Newton Ishii, como toda a equipe de Moro, gosta de aparecer. Está sempre bem posicionado quando as câmeras registram os presos da Lava Jato entrando nos carros, eventualmente com uma mãozinha carinhosa no ombro do cidadão.
A conversa de Delcídio do Amaral com seu chefe de gabinete, o advogado de Cerveró e o filho deste cita seu nome.
DELCÍDIO: ALGUÉM PEGOU ISSO AÍ E DEVE TER REPRODUZIDO. AGORA QUEM FEZ ISSO É QUE A GENTE NÃO SABE.
EDSON: É O JAPONÊS. SE FOR ALGUÉM É O JAPONÊS.
DIOGO: É O JAPONÊS BONZINHO.
DELCÍDIO: O JAPONÊS BONZINHO?
EDSON: É. ELE VENDE AS INFORMAÇÕES PARA AS REVISTAS.
BERNARDO: É, É.
DELCÍDIO: É. AQUELE CARA É O CARA DA CARCERAGEM, ELE QUE CONTROLA A CARCERAGEM.
BERNARDO: SIM, SIM.
(…)
EDSON: SÓ QUEM PODE TÁ PASSANDO ISSO, SÉRGIO RIERA.
BERNARDO: MAS EU JÁ CORTEI…
EDSON: NEWTON E YOUSSEF.
DELCÍDIO: QUEM QUE É NEWTON?
BERNARDO: É O JAPONÊS.
EDSON: E O YOUSSEF, SÓ OS DOIS. O SÉRGIO, PORQUE O SÉRGIO TRAIU…
BERNARDO: SIM. ELE FEZ O JOGO DO MP, ASSINOU. TÁ… TÁ
(…)
EDSON: QUEM É QUE PODERIA LEVAR ISSO PRO ANDRÉ?
BERNARDO: EU ACHO QUE É CARCEREIRO. O CARA DÁ 50 MIL AÍ PRA VOCÊ.
EDSON: A GENTE NUM ENTENDE, PÔ!
BERNARDO: CARCEREIRO NEWTON… OS CARAS SÃO MUITO LEGAIS.

Em circunstâncias normais, Newton deveria ser afastado. Mas não estamos em circunstâncias normais.
Ele é ficha suja. Membro da corporação desde 1976, foi preso em flagrante em 2003 e reintegrado através de uma decisão judicial. A Operação Sucuri desbaratou uma quadrilha envolvida na facilitação de contrabando em Foz do Iguaçu.
Ishii se aposentou em outubro de 2003, mas, em abril de 2014, a aposentadoria foi revogada e ele retornou à atividade. De acordo com o blog Expresso, da Época, responde a processos criminal e civil, além de uma sindicância. “Ishii goza de confiança da direção”, diz a nota.
Ora, confiança de quem?
Então temos um policial federal acusado de corrupção, respondendo a processo — e que, por uma razão misteriosa, permanece onde está porque é, talvez, acima do bem e do mal?
Como reza aquela velha parábola, jabuti não sobe em árvore. Se está ali, alguém colocou. Com um currículo desses, retornando por ordem judicial, o lugar Newton Ishii seria uma atividade marginal.
Quem o pôs ali na frente? Quem está bancando o “japonês”?
Essa é a pergunta que precisa ser respondida. Esse é o autor dos vazamentos. Alguém cujo nome, aliás, não será revelado porque, como Ishii, também goza de confiança da direção.


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